segunda-feira, 8 de março de 2010

Teoria do segundo eu - Comportamento individual #03

 Segunda-feira de manhã. Devia ser um crime começar um texto com tais palavras, contudo. Segunda-feira, sete horas da manhã toca seu despertador. Eu não sei de vocês, alguns usam celular, outros, despertadores à pilha (aqueles que fazem bip, bip, bip, bip). Eu prefiro usar um velho rádio-relógio que desperta com um sonoro BEEM BEEM BEEM e uma música sertaneja tocando nas últimas no fundo. Sério, é a única coisa com que eu consigo acordar e de praxe acordo todo mundo da casa também. Tentei o celular, mas só conseguia acordar se eu deixasse ele no peito ou conseguisse dormir segurando o dito (cheguei a dominar a técnica), porque só a vibração me fazia acordar de verdade. Mas com o tempo, meu corpo se adaptou a essas técnicas e eu acabava acordando atrasado com o celular embaixo da cama.
Você levanta com a cara toda amassada e com um pouco de baba seca nos cantos da boca, cambaleia até o maldito despertador e aperta o botão "soneca".
Você sabe que agora vai vir um parágrafo inteiro sobre o "soneca", não é?
Pois sim, e aí vai.
Soneca, maldito botão, te dá uma falsa esperança. Ele sempre volta a tocar assim que você acabou de pegar no sono. E o que você faz para conseguir um descanso real? Aperta ele de novo. E fica apertando de novo e de novo até que dormiu os piores 30 minutos da sua vida e percebe que domir desse jeito não valhe a pena e acaba acordando, ou, simplesmente, desliga o maldito despertador. Mas, sem ele, muitos de nós iriam simplesmente desligar o despertador. O boão soneca é um mal necessário, assim como a falta de tranca em banheiros públicos.

Mas eu te pergunto. Você se lembra quando faz isso? Tem dias que sim, mas vagamente. Tem dias que nem se lembra. Tem dias que seu despertador "não tocou". Tem dias que você chega atrasado naquele compromisso tão importante porque apertou dez vezes o soneca. Tem vezes que te acordam, você responde e volta a dormir. Tem dias que você "não faz isso", mas todo mundo diz que você fez. Tem dias que você é acordado por alguém puto da vida com você, dizemdo que já chamou você um milhão de vezes e que você respondia, mas você "não respondeu" um milhão de vezes. "Se você sempre acorda num horário diferente, num lugar diferente, poderia acordar uma pessoa diferente?" - Clube da luta.
Em algum lugar de você mora o seu "eu sonado", essa criatura sem escrúpulos costuma tomar controle de seu corpo e o faz se portar de maneira altamente egoísta. Faz você dormir a mais, faz você apertar o soneca, faz você esquecer de ligar o despertador naquela noite que foi dormir tarde, faz você responder na cama e faz você dormir naquela aula que já te chamaram a atenção três vezes por estar dormindo. E você paga o pato, às vezes você lembra do que o seu "eu sonado" faz, às vezes não. Às vezes você tem um pequeno controle sobre ele, às vezes é ele que tem um pequeno controle sobre você. E, em uma situação e apenas uma, você pode testemunhar tudo o que ele faz e ficar impotente ao controle que ele exerce sobre você.

Isso acontece geralmente quando você está cansado e dorme em um lugar inapropriado: salas de aula, sofás, chão e lugares desse tipo. Já acordou e não conseguiu mexer seu corpo? Seus olhos apenas conseguem se mover até onde as pálpebras estão abertas, já que você não consegue abrir as pálpebras. Você tenta acordar, aquela situação de impotência é horrível. Fica mandando seu cérebro acordar, ele não responde. Você está lá, parado, vendo o que dá pra ver, escutando o que está ao seu redor, torcendo para que alguém esbarre no seu corpo para que você se liberte daquela prisão. Eu particularmente acho que consigo mexer minhas pernas nesse estado, mas como não consigo ver minhas pernas não sei se consigo mexer ou se tenho só a sensação de mexer, então eu fico batendo meu pé no chão ou chutando o ar para tentar acordar.
Em vão. Nunca dá certo. Você desiste, se rende ao seu "eu sonado" seus olhos sobem para a parte em que as pálbebras estão cobrindo. Você perdeu pra ele. Você voltou a dormir. Geralmente, quando isso acontece, acontece mais de uma vez, umas duas ou três vezes. Deve acontecer muito mais frequentemente do que estamos acostumados. Mas o seu "eu sonado" faz você esquecer de tudo isso.
Momento devaneio:
Isso acontece pois seu cérebro meio que "desliga" seu corpo, para que assim você não reproduza os movimentos dos seus sonhos.
E por falar nisso, já caiu no sono e sonhou logo de cara e, no sonho você fazia alguma atividade física, daí você reproduziu isso na cama e acabou acordando? Geralmente acontece com você sonhado que está jogando futebol e chuta, mas eu já acordei rebatendo um bola tênis (nunca joguei na vida) e girando um taco de beisebol. Como isso acontece sempre quando acabamos de cair no sono, o cérebro ainda não teve tempo de desligar o corpo.
Retornando do momento devaneio:
Um pouco menos sério que o Clube da Luta, o seu "eu sonado" não quer explodir a Visa, a Mastercard e a American Express, etc e nos tornar em um bando de anarco-primitivistas, pelo menos eu espero que o seu "eu sonado" não queira isso. Geralmente ele é apenas um egoísta filha da puta sem escrúpulos que não quer nada a não ser dormir, às vezes não quer nem dormir, só quer ficar deitado num lugar macio com os olhos fechados, de preferencia com um apoio para a cabeça.
Eu realmente acredito que se oferecessem para o meu "eu sonado" uma cama apenas se eu matasse alguém, ele mataria. Por isso exército dos EUA, já sabe como achar o Osama. Só me acordar às quatro da manhã e falar que só volto a dormir se achar o maldito.
E o pior que não vou me lembrar de nada e ninguém vai me recompensar. Nossa! Quantas vezes será que eu já fiz isso? Eu já fiz muita coisa para voltar a dormir. Já tomei banho, já levei um cara pro hospital, já emprestei dinheiro pra esse mesmo cara, já limpei um cocô do chão (que não era meu, diga-se de passagem), já fui dormir em outro colchão que não era meu. Conclusão, sou uma putinha crackera. Digo, eu não, meu "eu sonado" é uma putinha crackera.

O meu "eu sonado" é do tipo passivo, ou seja, faz de tudo para que deixem ele em paz e assim ele volte a dormir. Acho que a maioria é do tipo agressivo, mata qualquer um que o impeça de dormir. Não deixe seu bebê com um desses. O "eu sonado" indiferente é como o próprio nome diz, indiferente: "foda-se o mundo, eu tô dormindo agora", normalmente esses tendem a virar agressivos depois que acordam à força esse ser. E tem o obnubilado, que é incapaz de fazer favores, incapaz de ignorar os pedidos e incapaz de ficar bravo, geralmente o pessoal tem pena desse pobr coitado e manda ele voltar a dormir ou manda tomar um café, está mais próximo do passivo.
Como vencer seu "eu sonado"? Disciplina? Boas horas de sono? Exercício físico? Rotina? Parar de tomar cerveja antes de dormir? Bem, quem souber da solução me avise.
Tyler Durden vive em você, e ele quer dormir.
Té Mais!